Amiga,
Entre os delírios cotidianos que fazem uma manhã de sol
parecer um cenário de ficção científica, recebo a sua correspondência. Confesso
que seguro o choro enquanto leio suas palavras e com uma profunda sensação de
já ter passado por isso. Ou de estar vivendo isso de uma maneira constante.
Ontem fez um dia lindo aqui no Rio e eu desisti da praia
para ir a um samba porque eu precisava ver pessoas e estar em contato com elas
(por mais estranho que isso possa parecer). A verdade é que eu cheguei cheia de
intenções e não aconteceu absolutamente NADA. Eu apenas fui invisível.
Eu também gostaria de ter alguém que cuidasse de mim, que
dividisse o fardo, mas também não alimento qualquer esperança em relação a isso
porque eu sei que nada, absolutamente nada, vai acontecer e minha vida será uma
sucessão de noites como a de ontem.
Eu queria que as pessoas do mundo me percebessem incrível
como você e a maioria dos meus amigos vêem. Mas acho que eles só dizem essas
coisas para mim para a existência ser um pouco menos insuportável.
Mas fique tranquila, eu divido o peso com você.
Saudades...