Conversas entre duas amigas no limite da inadequação

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Alguém sempre morre


Acho a coisa mais linda essa reação que as histórias podem provocar! Eu também me emociono muito nessas ocasiões. E há quem diga que Literatura é puro escapismo, sem compreender sua grandeza, a verdadeira dimensão que ela tem quando nos coloca em contato íntimo e profundo com a alma humana.

Eu não sei muito sobre o amor, amiga, como você bem sabe. Sei sobre rejeição, mas não sei sobre amor. E de tanto não saber, acredito que a única verdade absoluta sobre o amor é que alguém sempre morre. Não necessariamente fisicamente, mas morre. Quem ama acaba matando um pouco de si mesmo, porque o amor me parece ser muito exigente! Eu não sei. Eu nunca vou saber, mesmo já tendo 30 anos.

E por falar nos 30 anos, acho que você finalmente compreendeu o que eu quis dizer sobre me sentir pesada a esse respeito. É que eu não vejo planos, não tenho projetos, não contemplo perspectivas de mudança nessa vida. Confesso que tenho gostado muito da minha vida, só que tenho a nítida sensação de que, daqui para frente, não posso mais errar. Não me será permitido um deslize sequer. E isso dói. Não é crise, é só um peso.

Eu chorei no ano passado, quando minha preguiça mental me deu uma folguinha e eu consegui, finalmente, ler um livro. Li A Elegância do Ouriço e me desidratei por me identificar tanto com as pessoas deslocadas dessa vida. E porque, assim como aconteceu no seu livro, quando as coisas parecem se ajeitar, alguém morre.

Se os exemplos dos livros se parecerem tanto com a realidade como eles parecem parecer, é possível que não tenhamos direito à plenitude. E as palavras devem existir só mesmo para nos trazer consolo quando tudo parecer não fazer mais sentido. Só porque, escrevendo, é possível viver a plenitude em algum lugar. Só que não.

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