Eu chutei tudo debaixo dessa escrivaninha reaproveitada que eu ganhei. Agora, o quarto parece um pouco mais organizado do que ele jamais foi. Pelo menos parece, por uma duas horas. Ou Enquanto eu não bagunço tudo nessa eterna indecisão sobre o que usar para parecer alguma coisa que eu não sou.
Mas eu não vim aqui, depois de tanto tempo, falar sobre a escrivaninha reaproveitada no canto do quarto.
Me estranha o fato de você não estar  online.
Eu estou desesperada!
Mas não é daqueles desesperos ruins de quando as coisas estão desmoronando e você, simplesmente, se vê diante do inevitável que cai sobre a sua cabeça como pancadas pesadas de jornal velho e molhado.
Eu estou desesperada porque terminei de ler um livro e choro compulsivamente há uns 15 minutos e sinto uma dor absurda no estômago e é como se eu, NUNCA MAIS, fosse capaz de parar de chorar.
Lembra que te falei sobre o livro "Um Dia"?
Eu já havia visto o filme e achei a história tão lindamente triste que resolvi presentear uma amiga. Mas é porque eu achava que essa história deveria ser compartilhada dada a sua dose grotesca de realidade. (Sim, eu acho que a vida na ficção deveria ser infinitamente melhor porque no mundo real ela é cruel).
Eu senti uma identificação absurda. Mas isso também não é impossível porque eu ando me reconhecendo em todo e qualquer personagem que habite um livro.
Toda tristeza, todo sonho e todo o senso de realidade e, sobretudo, essa coisa de ser meio vítima e meio triste o tempo todo.
Eu tenho um Dexter Meyhew que, de certa forma, não faz ideia que ocupa esse papel mas beira ao grotesco e ao grosseiro como ele. E fato de apenas uma noite, apenas amigos não terem sido formalizadas ele anda vagando pelo entorno da minha vida. E eu tenho uma certeza, mais que absurda que isso não vai acontecer  e ele não vai virar um príncipe porque simplesmente acordou e porque essa é a minha vida real e não uma história de ficção e se fosse uma história de ficção certamente seria um roteiro da Record ou do SBT que precisa ser encurtado porque é ruim.
Eu não consigo aceitar a vida e me dei conta que tenho 30 anos, nenhum projeto de livro ou qualquer coisa que vá mudar a minha vida completamente e transformar um fracasso em potencial em um grande sucesso e eu nem vou poder rir de tudo porque "sim, patinhos feios viram cisnes!"
Isso não vai acontecer.
E eu acordei com 30 anos achando que o tempo está passando. E mais depressa como se a terra tivesse resolvido girar em uma velocidade acima da média e fosse rodar, rodar, rodar e provocar uma hecatombe e a extinção da humanidade.
E eu tenho medo que as coisas não aconteçam. Nem o futuro. Ou quando as coisas estiverem mais ou menos como eu gostaria, como aconteceu com a Emma venha um caminhão e jogue a bicicleta longe ou eu morra, ou aconteça alguma coisa horrível que vá atrapalhar tudo.
(PRONTO! COMECEI A CHORAR DE NOVO)
Enfim...
Quando eu li "Crime e Castigo" também reagi de uma maneira estranha e passional. Mas eu surtei e fiquei triste com a humanidade (como de costume). Eu já chorei em outras histórias porque os autores simplesmente separam os amigos, ou matam o protagonista que é bom e justo e faz com que os bons personagens (não de uma maneira dramática, mas de caráter) sofram tão absurdamente que eu tenho vontade de rasgar todos e fazer uma grande fogueira. Mas é só vontade...
Mas esse livro me fez chorar compulsivamente e hoje nem é um dia que eu esteja sentindo pena de mim mesma e só estou vivendo a minha vida normalmente, sem tentar me prender a qualquer coisa, desejando tímida e silenciosamente que eu alguém (e você sabe quem é e pode me xingar por isso) estivesse aqui e eu ficasse fazendo piadas inteligentes e sendo mórbida e ele só sorrindo porque ele é bonito quando sorri.
E eu, de reprente, senti vontade de matar aula e não fazer o trabalho e caminhar amanhã cedo e ir à missa e ver o que acontece.

Está tudo bem comigo?