Conversas entre duas amigas no limite da inadequação

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O beijo

Lígia acordou de um jeito diferente. Seus olhos brilhavam mais do que de que costume. Cantarolava uma das músicas dos Paralamas. Do lado de fora da janela, a cidade pulsava, intensa e fria. Sairia dentro de poucos minutos para trabalho. Seu olhar perdido pela janela, escondia toda a decisão tomada, na noite anterior. Daria fim a toda aquela angústia. Antes disso, caminharia até o trabalho.


Lá, com o maior sorriso do mundo, farias visita aos clientes, escreveria textos e textos e textos. Almoçaria com as amigas, só pensando no que diria no fim de tarde. No Happy Hour. Eu sou apenas a narradora e ela me prometeu tomar bebidas alcoolicas, dar gargalhadas altas num breve ensaio sobre possessão.

Lígia ajeitou, metodicamente, seus cachos ligeiramente dourados. Organizou o cachecol e retocou a maquiagem. Ia para batalha. A grande batalha da vida dela. No Happy Hour, amigos do antigo trabalho e ele, sentado, de uma maneira disciplicente ria a melhor de suas gargalhadas. Ela perdeu o fôlego por dois segundos e acreditou que a esquemia viria logo, em seguida. Estava enganada.

Foi até a mesa, cumprimentou todos, inclusive ele, que se vestiu do melhor sorriso ao vê-la. Ela sorriu de volta, meio tímida mas completamente decidida. Lembrou da narradora, pediu uma bebidinha, “leve porque não estou acostumada”. E se entregou à descontração. Falavam de trabalho, de dinheiro, de futebol e de sexo. Tudo ao mesmo tempo. Parou naquela bebidinha. Não queria perder a coragem, nem o prumo, nem a dignidade que se esvai quando bebemos além da conta.

Ficaram lado a lado. Trocaram olhares furtivos e foram os úlitmos a pagar a conta. Ele a levaria para casa. Já sozinhos, Lígia olhou profundamente nos olhos daquele que chamava disfarçadamente de “meu Neo”. Era o escolhido.

Pronta para batalha, Lígia levou, respirou fundo e segurou o movimento dele com a palma das mãos. Segurou a nuca e beijou, da maneira mais intensa que conseguiu. Ele retribuiu com delicadeza e a intensidade necessárias para fazer com que o beijo fosse inesquecível. Deram-se as mãos, saíram do bar e seguiram rumo ao futuro.

E viveram felizes para sempre? Eu não sei. Mas aposto que sim. A narradora abandonou a história quando digitou o ponto depois do futuro. Sabia que Lígia conduziria, dali em diante, tudo da melhor maneira que pudesse. Ela só precisava de um empurrãozinho. O resto da história, tenho certeza, ela escreverá sozinha, ou melhor, na companhia dele.

One Response so far.

  1. Quero que tudo aconteça exatamente assim!!! Obrigada, amiga!

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