Conversas entre duas amigas no limite da inadequação

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Dilemas em uma quinta-feira, 17 de março de 2011, às 22h53

Amiga,
Não sei se escrevo diretamente para você ou se eu escrevo no blog para as pessoas que não lerão. Não quero escrever para você porque eu sei que você vai se preocupar. E eu não quero que você se preocupe porque, no fundo, esses meus dramas são tão pequenos e são tão meus! Se eu ainda morasse no Japão, talvez estivesse vivendo um dilema de verdade... Mas eu estou aqui, com uma vida aparentemente tranquila, fazendo o que gosto - e até podendo ter opinião – estudando que gosto, na cidade que não é minha, mas que eu escolhi mesmo assim.
Mas eu estou sozinha e me sentindo tão miserável! Eu posso aprender a fazer o que eu quiser. Escrever um soneto, uma virada de bateria, editar filmes e até inventar uma nova técnica de edição igual ao que o Scorcese fez  em “Bons Companheiros”. Posso entender de moda, maquiagem e futebol e conseguir incluir isso em uma única frase de modo que faça sentindo. Posso aprender sânscrito e tocar teremin. No entanto, sou incapaz de fazer alguém que eu goste, de verdade, gostar de mim.
Ele está com a luz do seu facechat ligada neste instante, falando com alguém que não sou eu. De mim, ele não sabe sequer o nome. E eu fico aqui desejando todas aquelas coisas que eu escrevi que passam pelo deboche, pelo sangue na veia e pela falta de fôlego. Todas as coisas que ele me daria se soubesse que é o escolhido. Talvez, faça ideia. Mas isso não faz sentido ou graça para ele.
Eu passei a minha vida inteira tentando ser inteligente. Ser boa. Ser leve. Ser interessante, porque eu jamais seria uma menina bonita. Não desse jeito que eles vendem de maneira que nos fazem sentir raiva das revistas e das propagandas, e agradecer todos os dias pela Escola de Frankfurt, e jogar a culpa nos meios e não em mim mesma e na minha falta de adequação a esse mundo.
Eu leio Bukowski e entendo e percebo que não serei  como ele e, portanto, não tem a menor graça viver essa vida errante, de quem odeia as pessoas e a vida e o cosmos.
Cheguei à metade da minha vida entendendo que todas as coisas em que eu acreditei são uma balela e que não vão me fazer melhor e nem me garantir o reino dos céus. INFERNO! Eu me peguei pensando em você, porque eu conclui que você é a única pessoa que eu conheço que é tão triste e tão sozinha como eu. E que vai sentir as mesmas coisas como eu e me deixar confortável por ser tão demais nesse mundo que é tão de menos. Que não vai me deixar desconfortável porque eu penso, porque eu acredito em apocalipse zumbi, porque acho que vou casar com o Lobão, com o Selton Melo, com o Mark Wahlbergh quando na verdade eu queria estar com um sujeito de nome  Javier Marcelo, que não terá as melhores palavras, nem as melhores ideias, nem a genialidade,  nem a sensibilidade, e que eu vou querer mesmo assim porque me deixa sem resposta e sem fôlego.
Eu não quero te preocupar. Nem te deixar triste e nem fazer vir aqui porque eu sei que você viria se achasse que eu corro risco ou que estou sozinha demais. Eu só queria não me sentir tão miserável, capaz de fazer as coisas acontecerem para os outros e com uma inabilidade de fazer as coisas acontecerem para mim, enquanto faz todo o resto do mundo feliz. Acho tão injusto....

Cássia

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