Conversas entre duas amigas no limite da inadequação

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Sobre o tempo...

Havia um tempo no qual eu acreditava. Acreditava nas palavras e em seu poder de transformação. Acreditava no pensamento e na força dele para fazer girar o mundo e melhorá-lo. Acreditava na poesia, na magia. No silêncio. Acreditava nas pessoas e depositava nelas alguma fé na mudança e por isso trazia para perto de mim ao compartilhar meu único bem que é a capacidade de pensar sem parar.

Esse tempo já foi. Ainda carrego em mim essa coisa de idealismo inadequado e deslocado. Não cabe em um mundo no qual foi decretado o fim da arte. No mesmo mundo em que o tal conceito de pós-modernidade também decreta o fim das grandes ideologias. Mas eu sigo sendo eu. Uma miserável que pensa e que, por isso, não se adequa ao mundo e, tampouco, tem paciência para estupidez humana.

Continuo acreditando nas palavras. Na poesia. Na arte. Com uma pontadinha de tristeza, admito meu descrédito diário na humanidade. Talvez eu esteja incluída nessa multidão. E talvez seja essa razão da minha tristeza. Saber que já fui tocada. E que, no fundo, bem lá no fundo, eu seja como esses miseráveis que atormentam a minha existência.

Eu acreditava. Ela acreditava. Eles acreditavam. E talvez fosse necessário. Eu continuo acreditando. Ela continua acreditando. Talvez eles nem se lembrem que acreditaram em alguma coisa, algum dia. Estão vazios. Mas foi importante. Foi importante para não nos alcançar a morte maior, mais dolorosa e mais triste de todas que é a morte da alma.

São engraçadas as alternativas que procuramos para nos manter vivos.

Alguns se encaixam e vivem simbioticamente nesse mundo que é duro e triste e que não faz muito sentido. Carregam por muitos anos uma existência vazia e uma falsa euforia como se tudo fosse bom.

Eu continuo acreditando. Nas palavras e nas poesias. E em manter meu pensamento livre por mais doloroso que isso seja. Por mais noites de sono que me roubem. Prefiro isso a sonhar com o príncipe encantado.

Ainda assim, miserável!

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